Os colonos de Schäeffer em Nova Friburgo

Considerações iniciais: José Bonifácio de Andrada e Silva, então ministro dos negócios estrangeiros planejava uma colonização visando a defesa da Revolução Brasileira mediante a implantação de colônias, constituídas nos moldes dos Cossacos do Don e do Ural em Minas Gerais e na Bahia. Para isso, recrutou o Major Von Schäeffer, instruindo-o através de um documento assinado em 21 de agosto de 1822, quando o processo de nossa independência já se liquidava. Através dessas colônias rural-militares, poderia-se camuflar os combatentes debaixo do disfarce de colonos.

A missão de Schäeffer tinha duplo objetivo: conquistar as simpatias dos governos austríaco, prussiano e bávaro em favor da causa brasileira, e atrair colonos e soldados para o Brasil.


Após 95 dias de uma penosa travessia, Schäeffer chega a Viena, Áustria, a fim de entregar cartas do então príncipe regente D. Pedro I ao sogro (pai de D. Leopoldina), imperador daquele país. Schäeffer mantia contato com o governo brasileiro durante sua missão, ao mesmo tempo em que descrevia em suas cartas as condutas necessárias no tratamento com os futuros colonos, que a princípio eram russos e não se sabe porquê o major modificou a idéia inicial, incluindo alemães, formando os núcleos principais das colônias em terras brasileiras.

Em sua missão pela Europa, Schäeffer estabeleceu domicílio em Hamburgo e Frankfurt enquanto cumpria com seus objetivos. Do Ducado de Hesse saíram os primeiros colonos alemães a arraigarem-se no Brasil. De Hamburgo, Schäeffer acordara o envio de 600 colonos. A 1° de maio de 1823, anunciava a partida da GaleraGalera Argos (Cap. Ehlers), de Amsterdan e a 21 de janeiro de 1824, da Galera Carolina, de Hamburgo.

Em março de 1824 partia a terceira Galera, Ana Luisa, na qual embarcavam mais 325 colonos, chegando ao Rio de Janeiro em 4 de junho de 1824; parte desses colonos foram para o Rio Grande do Sul e outros ficaram empregados no serviço militar.

A 3 de maio do mesmo ano, anunciava a partida de outro navio: o Hamburguês Germânia, conduzindo um pouco mais de 250 colonos. Em agosto partira a Galera Dinamarquesa Jorge Frederico que chegou ao Rio de Janeiro em outubro com o total de 481 indivíduos.

Mais dois navios deixaram a Alemanha ainda em 1824, endereçados ao Brasil. O primeiro a partir foi o hamburguês Pedro e Maria chegando no dia 12 de novembro com o total de 330 colonos. O segundo navio a velejar em 1824 seria o dinamarquês Hebe, mas sem motivo aparente este navio foi substituído pelo hamburguês Kranich levando 280 colonos, chegando ao Rio em 15 de janeiro de 1825.

Não se sabe precisamente o número de colonos enviados por Schäeffer em 1824, pois as informações fornecidas por ele e pelo jornal da época (Diário Fluminense), não retratavam fielmente os números das duas classes de cada navio aportado, mas aproximadamente 2.107 alemães deixaram sua terra natal e chegaram ao Brasil, sendo que desses, 1300 foram engajados no exército e 800 enviados para as colônias (destes, mais de 300 se localizaram em Nova Friburgo).

Os esforços do major continuaram no mesmo ritmo nos próximos anos, mais navios foram enviados às terras brasileiras. Pode-se verificar facilmente por análise de documentos existentes que a maioria dos colonos emigrados para o Brasil de 1824 a 1828 vieram do Hesse, ao menos o que se constatou das primeiras expedições. Dentre essas inúmeras travessias além-mar, destacaremos a primeira e mais importante que contextua os primeiros emigrantes da família Junger no Brasil. A viagem da Galera Argos partindo de Amsterdan em fins de julho de 1823 com seus respectivos 300 colonos (somente 270 chegaram) e seu capitão Ehlers.

Figura ilustre, Conrado Meyer, responsável por descrever toda a viagem e relatar os dados de todos a bordo, bem como o balancete dos gastos e reembolsos tratados com o major Schäeffer teve papel importante nessa história, pois suas anotações possibilitaram hoje a análise desses dados e a transcrição do início da colonização alemã no Brasil. Segundo ele, não foi uma viagem fácil, rodeada de imprevistos e por 3 vezes interrompida, acarretando em seu atraso na chegada ao Rio de Janeiro em 13 de janeiro de 1824.

A priori, os novos colonos originários do Hesse seriam fixados em colônias perto de Viçosa e de Caravelas, mas na verdade formaram o núcleo principal dos alemães em Nova Friburgo. Meyer produziu 3 listas com os nomes de todos os tripulantes e classificou-os como indivíduos menores de 6 anos, de 6 a 12 anos e maiores de 12 anos. Abaixo podemos ver a lista de alguns colonos vindo do Hesse com a primeiro integrante da família Junger (Heinrich Junger) e o número de indivíduos de sua família que o acompanhava.

Nomes
Homens e Meninos
Mulheres e Meninas
Total
Acima de 12 anos
Menos de 12 anos
Acima de 12 anos
Menos de 12 anos
De cada família
Lavradores e Vigário  
1) F. Sauerbronn
1
3
3
1
8
2) H. Junger *
2
3
1
-
6
3) H. Schott
1
2
2
1
6
4) P. Müller
1
1
1
1
4
5) Pierre Berbert
1
1
1
-
3
6) Guillme. Schwab
1
1
1
2
5
7) Balthr. Grieb
1
1
1
1
4
8) Henri Eller
2
1
1
3
7
9) Jonas Emmerich
1
1
1
2
5
10) Jean Hennrich
1
-
1
-
2
11) Pierre Nanz
1
1
1
1
4
12) C. Kleinfelder
3
1
1
-
5
13) Jaques Spamer
1
1
1
1
4
14) Daniel Dörr
1
-
1
3
5
15) Werner Zaubach
2
2
2
2
8
16) Henri Döring
1
1
1
1
4
17) Adam Diedrich
1
1
1
1
4
18) Gaspard Kaiser
1
1
1
1
4
19) Jaques Klein
1
4
1
1
7
20) Pierre Klein
1
4
1
-
6
21) Conrado Klein
2
1
2
2
7
22) Jaques Klein
1
-
1
-
2
23) Henri Schenckel
1
2
1
2
6
24) Conrado Reigel
1
2
1
2
6
25) J. N. Herrmann
2
3
1
1
7
26) Jean Ott
1
-
1
-
2
27) H. Dautt
-
3
1
2
6
28) Guillme. Drott
1
2
1
-
4
29) Gaspard Schneider
1
1
2
1
5
30) Phil. Schmidt
1
-
-
-
1
31) Ernest Urich
1
-
1
1
3
32) Charles Neipert
1
-
1
1
3
33) Henri Nanz
1
-
1
3
5
34) Chs. Schwenck
2
2
2
2
8
 
Carroceiros  
35) Jaques Winter
1
3
1
1
6
36) Conrado Bröder
1
3
1
1
6
 
Totais
43
52
42
41
178

* Identificados: HEINRICH JUNGER (46 anos) acompanhado de sua esposa MARGARETH (37 anos) e seus filhos JOHANES JUNGER (17 anos), HEINRICH JUNGER (12 anos) e DANIEL JUNGER (5 anos).

** Cópia do Microfilme original da lista -PDF

Esses primeiros colonos foram abrigados na Armação da Praia Grande, onde permaneceram por 3 meses e meio antes de partirem para Nova Friburgo juntamente com os colonos que chegaram no segundo navio (Carolina) à data aproximada de 26 ou 27 de abril de 1824. A tabela abaixo classifica numericamente o total de colonos que se inciou a colônia alemã em Nova Friburgo:

Quanto ao sexo masculino
até 5 anos de idade
16
de 6 a 18
75
de 19 a 35
49
de 36 a 50
40
mais de 50
15
 
195
Quanto ao sexo feminino
até 5 anos de idade
12
de 6 a 16
52
de 17 a 40
55
mais de 41
28
 
147
 
Total
342

Os colonos no decorrer dos anos espalharam-se pelos municípios vizinhos de Cantagalo e Macaé, de preferência.


Esse texto destaca a colonização alemã em Nova Friburgo, mas não podemos deixar de mencionar que essa vila cresceu nos moldes também da colonização suíça, o que possibilitou por parte de seus habitantes a mistura de culturas e de famílias, dando origem aos inúmeros descendentes por todo o Brasil.

Fonte: REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
Volume 310 – Janeiro-Março – 1976
Departamento de Imprensa Nacional – Rio - 1976

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