Razões da emigração na Alemanha

"O Brasil tinha meia dúzia de centros notórios, como Rio de Janeiro, a capital do recém criado Império Brasileiro; Salvador, antiga capital; Recife, São Paulo e núcleos mais provincianos como Porto Alegre. O Brasil era movido pelos escravos. De seu suor, sangue e lágrimas vivia a jovem nação. Áçucar, gado, cacau, pedras preciosas, tudo nascia de suas mãos. E como eles fossem em maior número do que os homens livres, é provável que esse fato levasse o Governo a pensar em imigrantes de outra categoria. O Rio Grande de São Pedro tinha Porto Alegre como capital. Ainda marcavam presença Viamão, Rio Pardo, Pelotas e Rio Grande, para citar apenas alguns núcleos. O gado constituía a grande riqueza, indelevelmente ligada à História do extremo sul. Aqui também o braço servil era uma realidade. Falar na Alemanha da época requer registrar que ela não existia como unidade nacional. Havia reinados, principados, ducados, independentes entre si. O que identificava a todos, e daí falarmos em Alemanha, era a língua. Na Idade Média, predominava os dialetos. Ainda hoje a Alemanha é rica em dialetos. Com Lutero ao traduzir a Bíblia para que os alemães pudessem lê-la, criou-se a língua alemã ou simplesmente, o alemão. Ao uniformizar o idioma, havia um elo comum entre todos os departamentos políticos vindos da Idade Média. Logo, ao falarmos em imigrantes da Alemanha, antes de 1871, ano da unificação formalizada por Bismark, referimo-nos às pessoas de fala alemã. Os passaportes da época registram a origem das pessoas como sendo da Prússia, de Schleswig-Holstein, Renânia, Hesse* ou Pomerânia. Como se todas falassem a mesma língua, a História só registra "alemães". Mas isso não tira o mérito da imigração entre nós.

Agora podemos perguntar - O que leva uma pessoa a deixar seu lugar de nascimento?

Ora, com nossos imigrantes alemães, como em qualquer ser humano, houve o desejo natural de progredir, a visualização de novos horizontes em razão de situações existentes em sua terra natal.
Na família alemã vamos encontrar o "Erbrecht" (morgadio), direto hereditário do filho mais velho. Como não houvesse mão-de-obra à disposição, eram comuns famílias com oito, dez ou mais filhos. A propaganda brasileira então feita na Alemanha deve ter produzido os efeitos desejados, já que muitos viam a grande oportunidade de terem suas terras próprias. E muita terra! Enfim, sessenta ou setenta hectares era muita terra. Não seria hora da realização da utopia de cada um? Outrossim, é preciso considerar que, ao tempo do início da imigração, a Alemanha saíra das Guerras Napoleônicas, que causaram uma devastação fácil de imaginar: lavouras destruidas seguidamente, moradias em chamas, mortes, dizimação da juventude masculina, a soldadesca deixando seus rastros junto ao elemento feminino... Quanto aos renanos, o maior número de imigrantes, suas terras sempre foram palco de lutas travadas ao longo do rio Reno, fato que pode explicar sua inquietação.

A emigração começou em 1824, setenta anos depois da invenção da máquina a vapor, na Inglaterra, cujos efeitos técnicos começavam a fazer sentir na Europa continental. A máquina dispensa mão-de-obra e a previsão de desemprego para tanta gente deve ter exercido sua influência sobre a emigração. Depois veremos que os artesãos, começando a perder suas oportunidades na Alemanha, foram aqui muito importantes, porque lançaram as bases da industrialização. Além desses fatores gerais, em cada região de onde provieram imigrantes, com destaque para a Renânia, Vestfália e Pomerânia, havia fatores locais a influir na saída de seus filhos."


Razões da imigração no Brasil

"Por que alemães vieram ao Brasil?
Quem sabia na Renânia que o Brasil existia?
Onde ficava esse Brasil?

Nos meios políticos e governamentais certamente o Brasil era conhecido porque a filha de Francisco II, último Imperador do Sacro Império Romano de Nação Alemã, ao mesmo tempo, Francisco I, primeiro Imperador da Áustria, da Casa dos Habsburgos, era casada com o jovem Imperador Pedro I, da Casa de Bragança. O nome dessa mulher ressoou e ainda ressoa no Brasil, mormente no sul, em virtude da imigração alemã. A arquiduquesa Leopoldina Carolina Josefa contraiu matrimonio com D. Pedro, apenas príncipe, no dia 13 de maio de 1817, por procuração, em Viena. Pelas descrições, Leopoldina não era um "monumento" de beleza, mas seria simpática, cabelos louros, olhos azuis, atenciosa, inteligente, cativante. Ela conquistou os brasileiros, que a consideravam uma "mãe", como registram os livros. E quanto mais os brasileiros ficaram conhecendo seu Imperador, com todos seus pecados, tanto mais Leopoldina subia no conceito deles. É fácil imaginar que o fato de uma princesa germânica ser a Imperatriz do Brasil tenha dado ênfase à imigração. Leopoldina sabia que sua antepassada, Imperatriz Maria Teresa, havia colonizado terras ao longo do Danúbio, para impedir o avanço dos turcos em direção ao centro da Europa, com ameaça ao território austríaco. O Brasil vivia uma situação parecida no sul. Ali constantemente havia invasões e atividades bélicas para manter as fronteiras brasileiras. A colonização mais intensa daquele pedaço de terra poderia ajudar a manter o equilíbrio geopolítico. Na verdade, os açorianos, então "donos" do Rio Grande, eram, também, os "eternos vigilantes". Afirmava-se que dormiam com um olho só, o outro estava sempre aberto para ver o inimigo chegar.

Colonizar o Sul. Mas onde buscar os colonizadores?

É claro que não viriam portugueses, de quem o Brasil acabara de se emancipar. Espanhóis, nem pensar, porque eram os inimigos naquela região. Franceses também não, porque um dia haviam invadido o Rio de Janeiro, fundando a "França Antártica". Ingleses também não, porque igualmente haviam tentado instalar-se no Brasil. Holandeses fora de cogitação, pois estiveram 24 anos no Nordeste. Alemães. Leopoldina era alemã. A Prússia, que depois integraria a Alemanha, tinha um exército reconhecido e admirado por D. Pedro I, cujas tendências militaristas eram conhecidas. O Brasil precisava de soldados, já que os portugueses, com a Independência, haviam voltado para Portugal. Quem defenderia o Brasil? D. Pedro I interessou-se por mercenários alemães e provavelmente, para não ser notado esse "movimento militarista", passou a contratar também colonos que ocupariam as terras sulinas. Para proceder adequadamente, foi enviado à Alemanha Georg von Schäeffer, preposto do Império. A missão de Schäeffer, embora exitosa, teve muitos percalços. A Europa estava impedindo que soldados saíssem como mercenários. Quem desejasse emigrar, deveria renunciar à nacionalidade e apresentar provas de que o país destinatário lhe daria nova nacionalidade. Os países europeus queriam prevenir-se contra futuras responsabilidades.

O governo brasileiro oferecia: passagem paga; concessão de cidadania; concessão de lotes de terra livres e desimpedidos; suprimento com primeiras necessidades; materiais de trabalho e animais; isenção de impostos por alguns anos; liberdade de culto. No Brasil há uma expressão popular que diz: "Quando a esmola é demais o pobre desconfia". É muito possível que alguém considerasse a oferta grande demais. Isso iria confirmar-se mais tarde, porque chegar ao Rio Grande, mais especificamente a São Leopoldo, e receber um lote de terras a 30 ou 40 quilômetros distantes da sede, sem estradas, sem escolas, na mata virgem, deve ter provocado muitas lágrimas. Com relação à liberdade de culto oferecida - o Governo deveria prever que entre os imigrantes havia luteranos - era inconstitucional, porque pela Constituição Imperial de 1824 a religião católica era oficial. Outros credos poderiam ser praticados, em caráter particular, em casas, sem aparência exterior de templo."

Fonte: 1824 ANTES E DEPOIS - O Rio Grande do Sul e a imigração alemã
Texto: Telmo Lauro Müller

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